Mais um espetáculo terminara e o palhaço a seguir para a coxia. Um grande sucesso! Todos os dias de sua vida eram fazer rir aqueles que o viam, adultos ou crianças. Piruetas, cambalhotas, pulos e luzes com fumaça ao som de muitas risadas e aplausos! Mal sabe o seu público que suas lágrimas não são falsas.
Em seu camarim o palhaço põe sua máscara, faz sua maquiagem, troca sua roupa e espalha sorrisos diante de todos! Em seu camarim o palhaço põe sua máscara e cobre seu rosto triste, faz sua maquiagem e esconde as marcas de seu passado, troca sua roupa e troca de vida, espalha sorrisos diante de todos e junta as lágrimas dentro de si... Por trás das cortinas, solitário, ele fita a bailarina que rodopia em torno de si, admira-a como se ela emitisse luz própria. A cada passo um suspiro, a cada pulo uma lágrima por aquela que dança a vida, que roubou seu coração, mas que não intenciona devolvê-lo.
A cada dia o palhaço solitário respira fundo, engole em seco e sobe ao picadeiro para mostrar sua alegria, mas seus olhos são tristes. A flor que carrega em seu peito é pra disfarçar seu coração murcho. Pobre palhaço... Por mais que se esconda dentro de si, suas bolas de sabão refletem sua dor, mas só ele enxerga. Aplausos e bis! Ele conta uma piada. Aplausos e bis! Ele pula, cai e finge de morto. Aplausos e gritos! Seu show terminou. Suas costelas definham, sua pele repuxa, seu suor é frio. O pobre palhaço desce do picadeiro, entra em sua clausura, tira sua máscara... e chora.
Daniel Cobian